quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Crónicas do Passado




Numa destas tardes, com a intenção de procurar umas fotos das décadas de 20 e 30 do século passado, numas das caixas de arquivo que por aqui tenho, deparei-me com uma publicação de seu nome Expansão Portuguesa - em prol da economia Nacional, que faz uma analise económica e social das localidades com maior importância no Alto Alentejo, desde Avis, Sousel, Monforte, Portalegre, entre outras, mas também como não poderia deixar de ser lá estavam duas páginas e meia a relatar o que os repórteres na altura por cá encontraram, na nossa bela Vila de Alpalhão. Com intuito de passar esta singela informação a todos os que estejam interessados, tive o cuidado de transcrever na íntegra toda a descrição da nossa vila no longínquo ano de 1935.



Alpalhão é uma das mais importantes freguesias do concelho de Nisa – e de tal valor que D. Manuel I a considerou vila e lhe deu foral em 1512, sendo uma das primeiras dádivas no Alentejo ao Cavaleiros do Templo. Como vestígios do seu prestígio restam ainda as ruínas do castelo edificado por D. Diniz em 1300, onde se encontra a Torre do Relógio, e das muralhas erguidas em 1660, no reinado de D. João IV.

Foi, até 1853, a sede de concelho. Hoje, com cerca de 800 fogos, tem uma população de uns 3000 habitantes e é servida pela estação ferroviária do Pezo que lhe fica a uma distância de 5 quilómetros.

Situada numa extensa planície, num ponto onde se cruzam as estradas de Castelo de Vide, Portalegre, Crato, Tolosa e Nisa, é a sua vida essencialmente agrícola pela produção de trigo, centeio, milho, azeite frutas, legumes, etc., possuindo 3 lagares de azeite com maquinismos modernos.

Tem bastante gado bovino e suíno, exporta cortiça, e os queijos que ali se fabricam, são depois do conhecido Rabaçal, dos mais afamados do país.

Apresentados pelo Sr. Dr. Jorge Miguens, digno administrador do Concelho de Nisa ao Sr. António Fernando Sequeira, presidente da Junta de Freguesia, presta-se amavelmente este senhor a dar-nos os informes que necessitamos para a nossa investigação jornalística.

A Junta de Freguesia é também composta dos Srs. Lúcio maia Caldeira, tesoureiro e João de Sousa Sequeira, vogal – e acha-se demissionária pelo afastamento do posto da G.N.R., retirado de Alpalhão por falta de edifício apropriado. Urge diz-nos, que esse posto volte, porque a sua falta muito se faz sentir, construindo-se novo quartel com a comparticipação do Estado.



E, seguidamente respondendo às nossas interrogações, dá-nos os vários esclarecimentos que reproduzimos.

Escolas – há uma escola com, dois salões para ambos os sexos, com um recenseamento escolar de 300 crianças. A capacidade escolar não comporta este movimento, pelo que pensa a Junta em ampliar o edifício, precisando também para isso da comparticipação oficial. O edifício actual é bom e moderno o seu material didáctico.

Águas – está feita uma captação a 1200m da freguesia, mas não basta embora seja fornecida por 2 marcos fontenários e um fonte, além de outra, antiga no lugar do Ribeiro da Fonte. A Junta está tratando de alargar a captação para maior abundância do abastecimento à população.

Luz – espera dentro em breve que a freguesia tenha iluminação eléctrica, pois que a Câmara Municipal está procedendo a estudos nesse sentido, tornando assim, dentro em breve, esse desejo, numa realidade.

Higiene – Não há esgotos. Esse melhoramento torna-se indispensável, porque sem eles não pode haver higiene perfeita. Também, para a atingir, é preciso fazer-se a construção de um matadouro, pois que a matança se faz nos quintais, o que resulta num perigo para a saúde pública e uma falta de receita muito apreciável para a Câmara.
Feiras e Romarias – há anualmente duas feiras de maior importância: no primeiro domingo de Abril e a 15 de Julho – realizando-se os mercados no primeiro Domingo de cada mês. Na Senhora da Redonda, a dois quilómetros e meio de distância da povoação, tem lugar na Segunda-feira imediata ao Domingo de Páscoa, a mais importante romaria local, onde as raparigas da terra se apresentam caprichosamente vestidas, com trajes regionais.

Edifícios e estabelecimentos – há em Alpalhão uns 3 ou 4 estabelecimentos comerciais razoáveis e uns 40 de menor importância; estação telégrafo-postal e telefónica; Escola Primária com recenseamento escolar de 300 crianças; Hospital da Misericórdia, Registo Civil, etc. Ultimamente inaugurou-se a Casa do Povo com a assistência do Sr. Governador Civil do Distrito e autoridades do concelho. Em Alpalhão há diversas igrejas: Matriz, Misericórdia, S. Pedro, Calvário, e Senhora da Redonda. O seu Hospital, que visitamos, modesto e vivendo com naturais dificuldade é, no entanto, cuidado e asseado. Existem duas associações – a Recreativa e a Filarmónica.

Melhoramentos realizados – na ultima década: um novo cemitério; um coreto, por subscrição publica; captação e abastecimento de águas; terraplanagens e embelezamento do Largo Dr. A. A. da Costa; calcetamentos em diversas ruas e colocação de cascões no Caneiro da Regata, que era um foco de infecção, além de pequenos melhoramentos sem importância de registo


Alpalhão orgulha-se com o nome de vários dos seus filhos que foram figuras marcantes da vida social do país, na política e na cátedra, como o Dr. Jerónimo Andrade Sequeira, conselheiro, reitor do Liceu Mousinho da Silveira e Governador Civil do Distrito; - Dr. Joaquim de Andrade Sequeira, conselheiro, professor e por vezes Governador Civil substituto; - Dr. João Filipe, agrónomo-veterinário, chefe da divisão da D.G. do Ensino e Fomento, do Ministério da Agricultura; - Dr. João Augusto Caldeira Rebolo, funcionário superior do Ministério do Reino, jornalista e humorista de fina verve, etc.
Ainda hoje, felizmente vivas, outras pessoas honram com a sua honorabilidade, inteligência e categoria, a terra de Alpalhão que lhes foi berço, e à qual dedicam aquele amor tão natural que todos ligamos ao lugar onde os nosso olhos se abriram para a luz.

Longa seria a lista se pretendêssemos citar todos os nomes considerados de Alpalhão – além de que alguma faltas involuntárias nos seria fácil cometer. Assim, sem melindre para ninguém, permitimo-nos registar os do Sr. Dr. Ernesto Lopes Subtil, advogado distinto e secretário geral do Governo Civil de Portalegre – seu venerado pai, Sr. Joaquim Lopes Subtil, contador aposentado – Dr. João Tavares Mourato, chefe da Secretaria Judicial da Comarca de Fronteira, etc., etc.




É curioso, ao que parece o agora tão conhecido e certificado Queijo de Nisa, outrora era conhecido como o Queijo de Alpalhão. Foi uma das certificações que poderiam ter sido concedidas a produtos de Alpalhão e por mérito de uns e desmérito de outros passaram para outras terras, como li algures há bem pouco tempo atrás, ainda vamos a tempo de assegurar a certificação dos nossos enchidos e doçaria/pastelaria tradicional.


Haja vontade e empenho.

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